terça-feira, 3 de maio de 2011

O Vale do Ribeira - Registro, Iguape e Jacupiranga





Olá,

Este post será mais um relatório de um campo realizado com o Professor Júlio César Suzuki, disciplina de Geografia Agrária I da USP.

Tínhamos como destino as cidades de Iguape, Registro e Jacupiranga. Nosso objeto de estudo era analisar historicamente a formação da região, em Iguape; conhecer uma fábrica de chás e analisar o desenvolvimento urbano de Registro; e conhecermos uma comunidade quilombola que sobrevive da plantação e venda de bananas, em Jacupiranga.

A estrada – BR-116 / Régis Bittencourt

Saindo da cidade de São Paulo pela Zona Sul em direção ao Sul do país, é duplicada até o corte da Serra do Cafezal. É uma estrada razoavelmente conservada até este ponto, com grande movimentação de caminhões e motoristas que desrespeitam limites de velocidade. Há em alguns pontos locais de venda de frutas e verduras pela estrada, e alguns bons restaurantes para aquele almoço de domingo na região de Embu das Artes e Itapecirica da Serra.

Após o pedágio de São Lourenço da Serra, a estrada começa a perder altitude e começa a adentrar a mata atlântica. Após alguns quilômetros, acaba a duplicação e começa-se a descer a Serra do Cafezal. Neste ponto, a estrada está um pouco mais mal-conservada, e os motoristas fazem ultrapassagens arriscadas, em pontos que não se enxerga quem está vindo em sentido contrário e em alta velocidade. O visual é muito bonito: do lado oeste, há vários morros com formações de rochas cristalinas e corredeiras que alimentam o Ribeirão do Caçador, importante bacia hidrográfica da região; do lado leste, avistam-se diversos abismos da serra do mar, e também corredeiras. Em alguns locais, há obras de duplicação da rodovia e alguns pontos já duplicados, porém interditados por queda de barreiras pelas fortes chuvas que atingem a região. Mesmo com as contenções realizadas nas barreiras, a grande quantidade de chuvas e o solo extremamente instável fazem com que elas não sejam suficientes.

Serra do Cafezal, direção Norte

Depois da Serra do Cafezal, a estrada volta a ser duplicada, e nesse ponto se encontra a cidade de Miracatu. Diferentemente do planalto paulistano, a altitude varia entre 20 à 50 metros, com a planície litorânea avançando em direção ao interior por até 200 quilômetros da costa.

Em Jacupiranga, já podemos perceber que a estrada começa a ganhar altitude novamente, pois a serra do mar volta a se formar na região de Cajati.

Iguape

Para chegarmos à Iguape, tivemos de sair da BR-116 e entrar na SP-222 em direção ao litoral. São aproximadamente 50km de estrada cortando a serra do mar, bastantes sinuosos. O acesso é um tanto quanto precário, podemos dizer. No trajeto, podemos verificar as primeiras escarpas cristalinas que dão origem à famosa Serra do Mar de São Paulo.

Iguape é uma cidade histórica, formada no século XVII para receber os carregamentos de ouro de aluvião provenientes do Vale do Ribeira. O porto de Iguape era tão importante quanto o de Paraty, e as construções se assemelham muito à irmã do Rio de Janeiro.

Construções históricas do centro de Iguape

Como cidade-turística, há algumas pequenas pousadas e restaurantes no centro da cidade, lojas de artesanato, a Catedral barroca no largo central e algumas igrejas mais antigas espalhadas pelas ruas. Apesar disso, não há muita visitação de turistas ao local – provavelmente pelo fato do Vale do Ribeira ser muito carente de infraestrutura e não apresentar planejamento e investimento turístico, e o acesso à cidade ser um pouco difícil.

Construção em taipa

Ao Norte da cidade encontramos o antigo porto, realizado a partir da construção do canal de “Valo Grande”, um desvio realizado no rio Ribeira de Iguape até o mar de Iguape. Porém, após alguns anos de utilização do porto, o canal teve de ser inutilizado pelos barcos pois houve muito assoreamento no local, fazendo com que algumas embarcações ficassem presas ao fundo do leito. Pregado aos restos de uma antiga casa de taipa, encontrei uma placa escrito “Porto General Osório”; não sei se este é o nome original do local, mas vale guardar.

Porto General Osório

Dentro da Catedral de Iguape, há uma imagem de Cristo pregado na cruz entalhado em madeira, e habitantes relatam uma lenda a respeito da imagem. Ela foi encontrada na praia de Iguape, dentro de uma caixa de madeira com vidros de azeite – supostamente, ela teria sido retirada de uma embarcação que estaria chegando à costa e sendo atacada. Os habitantes locais retiraram a imagem da caixa e colocaram ela em pé, com sua frente à leste; no dia seguinte, a imagem estava virada com sua frente para oeste. Decidiram retirar ela do local e levar para Ilha Comprida, porém a cada passo que os carregadores avançavam com ela, sentiam a imagem ficar cada vez mais pesada; decidiram voltar para Iguape, e ela se tornava mais leve quanto mais chegavam próximos à cidade. Assim, construíram a primeira Igreja do local e instalaram a imagem dentro dela, tido como santa desde então.

Catedral

Registro

Chá Ribeira

A primeira parada na cidade de Registro foi na fábrica de chás “Chá Ribeira”.

A fábrica começou a funcionar na década de 30, ainda como uma formação de camponeses que trouxeram mudas de chá verde da Ásia para o Brasil escondidas em miolos de pão, pois não era permitido – o governo não queria que houvesse algum problema na produção interna, com a entrada de novas espécies.

Primeira área plantada com as mudas de chá trazidas na década de 30

Inicialmente, a cultura do chá seria utilizada para exportação. Apesar da região ser extremamente favorável para o plantio e os camponeses estarem empenhados na produção, não houve como competir com a produção asiática, de melhor qualidade e sabor no chá. Após o fracasso, a produção foi voltada para comércio interno.

Curiosamente, a folha do chá não possui cheiro nem sabor diferentes de uma folha comum – é preciso beneficiá-la para que adquira o blend de um chá verde. A plantação também precisa ficar próxima ao local de beneficiamento, pois não é preciso de muito tempo para após a colheita, as folhas murcharem e perderem a característica que faz o chá.

Atualmente, a fábrica perdeu completamente o aspecto de trabalho camponês e de agricultura familiar. Há diversas máquinas de poda e colheita nas garagens, e os agricultores foram terceirizados.

A cidade

Está localizada às margens da BR-116, e seu núcleo central está à Oeste da rodovia. Com uma altitude de aproximadamente 30 metros acima do nível do mar, é possível sentir a maresia e o clima é quente e úmido, pela grande área de mata atlântica que há na região. À noroeste da cidade, encontra-se o Rio Ribeira de Iguape, último grande rio do estado de São Paulo (em direção ao Sul), desaguando em Iguape.

Atualmente, é um pólo integrador dos municípios da região. Com aproximadamente 60 mil habitantes, a cidade possui vasto comércio, rede hoteleira, indústrias e universidades. Com a agricultura sendo a principal atividade econômica da região, a UNESP instalou recentemente um campus experimental na cidade, com o curso de Agricultura. É possível verificar o aparecimento de regiões de periferia nos bairros mais afastados do centro.

Durante o dia, o centro é bem movimentado e as lojas são cheias; porém após as 18h, o movimento cessa e tudo fica deserto. Somente alguns restaurantes ficam abertos pela noite, e há alguns barzinhos próximos ao rio Ribeira de Iguape, local frequentado pela população jovem da cidade.

Principal avenida do centro de Registro


Olha a banana, olha o bananeiro!

Quilombo Poça – Jacupiranga

No dia seguinte, o destino era o Quilombo Poça, localizado entre as cidades de Jacupiranga e Eldorado.

Placa de reconhecimento do Quilombo

O Quilombo foi reconhecido pelo Estado em 2008, após a comprovação da comunidade exercida pelos moradores do local; grande parte da comunidade leva o sobrenome “Rosa”, indicando laços familiares sendo formados entre as famílias por algumas gerações. Apesar de haver diversos “terceiros” na região, o governo delimitou as áreas e alguns deles serão desapropriados.

Por levantamentos em documentos históricos, o quilombo começou a ser formado na década de 1850. Um dos principais fundadores do local foi Joaquim da Costa Campos, com memoriais descritivos das terras da região datados de 1856. Este quilombo, assim como ínumeros outros existentes no Vale do Ribeira, possivelmente foi criado por escravos negros fugitivos dos processos de escravização, formando grupos e iniciando um processo de acamponesamento.

A partir da década de 60, com a abertura da Régis Bittencourt, a área começa a se integrar comercialmente com as cidades vizinhas, como Registro e Cajati. Há relatos de alguns moradores que emigram para essas áreas.

Antes de ser delimitado como Quilombo, os moradores da comunidade podiam vender os lotes para outras pessoas, e alguns desses aproveitaram o momento para expandir suas propriedades e suas plantações. Após a proibição de venda e futura desapropriação de quem está na faixa do Quilombo, a comunidade passa por problemas de relacionamento com esses “terceiros”, principalmente no que tange ao abastecimento de água e utilização de inseticidas nas plantações: com o uso de inseticidas pelos agricultores, os riachos estão contaminados na parte baixa e acessível do vale, enquanto que as nascentes estão localizadas nas terras dos agricultores – estes, por sua vez, como retaliação às desapropriações acabam cortando o suprimento de água vinda das nascentes por mangueiras instaladas para o abastecimento, já que elas passam por dentro das propriedades.

O bananal, ocupando todo o espaço produtivo do vale

A comunidade possui algumas árvores frutíferas e criação de pequenos animais como galinhas, para consumo próprio. Porém o principal sustento vem da banana, e para todo lugar que se olha são quilômetros de plantação. As bananeiras necessitam de clima úmido e quente, e não podem ser criadas em encostas pois o peso dos cachos de banana podem fazer com que a árvore não aguente e caia antes dos frutos amadurecerem para a colheita.

A plantação ocupa o espaço até as bordas dos morros

Conforme relatos de moradores, a comunidade hoje sofre com a falta de infraestrutura e de equipamentos para a colheita e transporte das bananas, sendo necessária a utilização de “atravessadores” que compram a produção e transportam para São Paulo para a venda. Sofrem também de falta de postos de saúde e escolas próximas ao quilombo, apesar de até a década de 70 haver um pronto socorro na beira da SP-194, porta de entrada do quilombo.

Atualmente, a comunidade conta com um galpão onde há um telecentro instalado com alguns computadores, uma pequena biblioteca e um espaço para festas e reuniões do grupo.

Para aqueles que quiserem saber mais a respeito da formação do Quilombo e da comunidade, acessem:

http://www.itesp.sp.gov.br/br/info/acoes/rtc/RTC_Poca.pdf


Até a próxima!

quinta-feira, 17 de março de 2011

São Carlos


Olá!

Desta vez, o destino da viagem é São Carlos. Interior de São Paulo, localizado na chamada “Alta Paulista”, distante aproximadamente 250km da capital. Trajeto: Rodovia dos Bandeirantes até Cordeirópolis, e Rodovia Washington Luiz em direção à São José do Rio Preto.

A viagem de São Paulo até Campinas é engraçada, pois são poucos os pontos nos quais você não tem ocupação, seja ela industrial, residencial ou comercial. Após a cidade de Campinas, a Bandeirantes corta a parte Sul da Região Metropolitana e adentra Hortolândia, Sumaré e Santa Bárbara do Oeste. E nesta parte, as plantações de cana-de-açúcar predominam os campos. São quilômetros extensos de cultivo, até o início de uma serra aproximadamente 30km antes de Cordeirópolis.

Plantação de cana e usina nas proximidades de Hortolândia

Chegando na entrada para a Washington Luiz, consegue-se avistar parte da cidade de Cordeirópolis. Seguindo rumo ao Oeste, Santa Gertrudes e Rio Claro estão muito próximos uns aos outros. A ocupação nesta área é irregular e pouco verticalizada. Há indústrias espalhadas no eixo da rodovia, e predomínio de plantação de cana-de-açúcar e milho, com galpões de armazenamento e usinas (no caso da cana).

Passando Rio Claro, chegamos ao pé da serra em Corumbataí, para então subirmos até São Carlos. A serra é de poucas curvas, porém o desnível entre as duas cidades chega a 250 metros de altitude. Ou seja, são aproximadamente 50 quilômetros de estrada, sendo que pelo menos 20 km são de subida.

Formação rochosa contínua à rodovia

Chegando ao planalto em São Carlos, a paisagem muda: o cerrado toma conta de parte da vegetação e os cultivos de cana, milho e uva vão se alternando entre si. Há também em alguns pontos cultivo de pêra e laranja, porém em menor quantidade.

O Cerrado nas margens da Washington Luiz, próximo à São Carlos

O cultivo de vinhas se adaptou muito bem em São Carlos, sendo a maior parte em uvas Shiraz, destinada à produção de vinhos finos.

A rodovia margeia o lado norte da cidade de São Carlos. A cidade hoje abriga em torno de 200 mil habitantes, e encontramos estudantes universitários na cidade toda. Isso se explica pelo fato de haver dois campus da USP e a UFSCAR, sendo centro tecnológico da região pois a maioria dos cursos encontrados nos campus são relacionados à engenharia e tecnologia.

Campus da USP em São Carlos

O relevo da cidade é muito acidentado, e no centro encontram-se duas depressões onde correm os córregos que por lá passam. A ferrovia passa ao sul, seguindo a parte alta da cidade, e a estação localizada um pouco antes do centro.

Vista da cidade a partir da Estação

São Carlos conta com uma boa rede de hotéis e comércio. Pode-se encontrar facilmente restaurantes, lanchonetes, farmácias e rede de magazines. A maioria do comércio está centralizada em duas ruas e em suas travessas: na Avenida São Carlos, que segue de leste à oeste; e na Avenida Dna Alexandrina, que corre pelo sentido inverso.

Para quem gosta de um lanche, há várias opções no centro, incluindo o famoso McDonalds. Há uma boa gama também de restaurantes self-service que funcionam aos domingos, provavelmente para atender aos alunos das faculdades públicas e que moram em repúblicas. Neste caso, recomendo o “Restaurante Panela”, que fica na Av Dna Alexandrina, tem um bom preço e a comida é boa.

Avenida São Carlos, com a depressão ao meio

Uma visita à Catedral de São Carlos vale a pena. Iniciada sua construção em 1946, foi sendo inaugurada aos poucos e somente em 1970 foi aberta completamente ao público. Ela faz o marco zero da cidade, e foi construída no mesmo local onde se encontrava a antiga Igreja Matriz. À noite, com sua nova iluminação, é possível avistá-la até da Rodovia Washington Luiz.

A cidade também abriga diversos pontos turísticos históricos-culturais, com uma gama diversa de casarões coloniais e fazendas datadas da época imperial. Vale a pena também visitar o Museu da TAM, a estação ferroviária, os bosques e parques ecológicos.

E na volta para São Paulo, não deixe de passar pelo Posto Castelo. Localizado no Km 222 da Washington Luiz sentido Campinas, é ponto de parada dos ônibus vindos da região de São José do Rio Preto. Há um bom restaurante no local, e uma loja de conveniência com diversos artigos (incluindo refrigerantes da região que fiz questão de trazer).

O maior inconveniente de ir até São Carlos foi o custo de pedágio, que foi de R$ 64, ida e volta. Para economizar um pouco, seriam necessários grandes desvios, mas como tínhamos horário para chegar na cidade, não valeria a pena. E em um dos pontos de fuga, por volta do KM180 da Washington Luiz sentido Campinas, há uma estrada de terra que sai da rodovia e entra em uma estrada vicinal já próxima à Rio Claro; porém a concessionária obteve decisão judicial de fechar o acesso para você ser obrigado a pagar o valor de R$ 6 no pedágio. No mais, digo que gostei muito da cidade por conta da infraestrutura que ela fornece aos seus habitantes.

Até a próxima viagem!

segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Circuito das águas paulistas: Serra Negra

Aproveitando a estadia de um casal de amigos em Serra Negra, fui, desta vez acompanhado, até a cidade de Serra Negra para almoçar em galera. Saímos de São Paulo em um domingo ensolarado, em direção ao chamado Circuito das Águas de São Paulo. A rota de ida: Rodovia dos Bandeirantes/Anhanguera até Jundiaí, e a SP-360 (que possui diversas denominações no percurso) até Serra Negra.

Até Jundiaí, sem grandes novidades. A Bandeirantes é uma das melhores estradas do Brasil inteiro, cortando partes da Serra do Japi até seu entroncamento com a Anhanguera, já em Jundiaí.

Da Anhanguera, saímos em direção à Itatiba. São aproximadamente 30 km de Jundiaí à Itatiba, e a estrada está passando por reformas: duplicação de trechos, recapeamento asfáltico, e óbvio, implantação de pedágio de R$ 1,85 tanto na ida, quanto na volta. A estrada desemboca diretamente no centro de Itatiba, e some dentro dela. É necessário dar algumas voltas pelo centro para sair novamente em direção ao Circuito das Águas.

Itatiba é uma cidade agradável, bem cuidada e com um comércio turístico muito interessante. Muitos doces, muito artesanato local e os famosos móveis de madeira. Aliás, falando em madeira, a fábrica de palitos Gina foi fundada lá, em 1945. Até alguns anos atrás era possível avistar a placa da fábrica alguns kilômetros antes da entrada da cidade; desta vez, achei a fábrica, mas não a placa.

Encontramos também um comércio para a classe média que frequenta o município, como restaurantes e padarias com "padrão São Paulo", concessionárias de automóveis e até o McDonalds.

Saindo de Itatiba, pegamos a SP-360 novamente em direção à Morungaba. A paisagem já muda um pouco, e na primeira parte do percurso é possível avistar plantações de milho da SynGenta - empresa Suíça resultante da junção da Novartis com a Astra-Zeneca - que manipula e seleciona as sementes a serem plantadas. Após as plantações de milho já avistamos várias árvores frutíferas, e entre elas há pêssego, laranja, maracujá e principalmente, figo. Percebe-se no ar a mudança dos cheiros.

Morungaba é uma pequena cidade incrustada em um vale ao pé da Serra das Cabras (que faz divisa com Campinas), e a partir da metade da década de 90 tornou-se estância climática do estado de São Paulo, recebendo maiores verbas para a diversificação do turismo. Passando pelo centro, podemos encontrar alguns restaurantes, parques e algumas pousadas e hotéis.

Deste ponto em diante, a SP-360 é tombada e reconhecida como de reconhecido valor paisagístico, pelos contornos entre as plantações e a grande flora encontrada na beira da estrada. Metade do percurso é realizado no meio da serra que separa Morungaba de Amparo, e como choveu muito no mês de janeiro, conseguimos avistar várias pedras descidas da encosta e em um determinado ponto da estrada, uma das faixas foi consumida pela erosão causada pelo escoamento das águas. As curvas são extremamente fechadas, e há várias subidas e descidas.

Desbarrancamento na SP-360

Após quase 40km de estrada, chegamos em Amparo. Mais uma vez, a estrada some pelo centro da cidade e só reaparece do outro lado, já em direção à Serra Negra. A cidade é muito bem organizada, com ruas largas e diversos parques para a população. No centro, encontram-se diversos barzinhos e restaurantes bem movimentados no final de semana.

A SP-360 recortando as serras entre Amparo e Serra Negra

Continuamos na SP-360, desta vez ao ponto final da viagem. A estrada torna-se um pouco menos sinuosa, porém as curvas ainda são muito fechadas. Depois de quase 20km, chegamos ao centro de Serra Negra.

Como se passaram 12 anos desde a última vez que estive na cidade, pude notar grande desenvolvimento. Ruas mais bem-cuidadas, hotéis e pousadas com fachadas limpas, e uma grande diversidade de restaurantes. A rua principal abriga grande parte do comércio local, entre estes várias lojas de doces, bebidas, artesanatos e malhas. Na praça principal encontramos o burburinho da cidade, com alguns barzinhos e mesinhas para sentar e assistir ao movimento.

Almoçamos em um restaurante self-service na Rua 7 de Setembro, e depois demos uma volta pelas lojas. Se estiver a fim de gastar dinheiro e engordar, aproveite para levar os doces em conserva que são MUITO bons, e os licores das casas de bebidas. Vale a pena também os vinhos caseiros, suaves na maioria das vezes. E claro, confecções – principalmente roupas e bordados.

Há também algumas fontes de água pela cidade, bem cuidadas e limpas. Em todas elas estão as características da água e sua composição mineral. Vale MUITO a pena levar uma garrafinha pra encher, pois elas costumam ser bem fresquinhas!

Fonte dos Italianos, bem no centro de Serra Negra

Pela tarde, subimos no Cristo para apreciar a vista, tomar uma cerveja bem gelada e jogar conversa fora. Aliás, queria muito ter subido de teleférico, mas com a ida e volta a R$ 10,00 e estando em quatro pessoas, não valeria a pena e estávamos muito pobres. Hahaha! Mas valeu a pena.

Vista da cidade a partir do Cristo

Na volta à São Paulo, caminho diferente: de Amparo, saí à esquerda e fui pela SP-095, que vai até Bragança Paulista. Até lá, são aproximadamente 40km de estrada castigada pelas recentes chuvas, mas com menores rampas de subida e descida e bem menos curvas. No meio do trajeto, encontramos a cidade de Tuiuti, predominantemente rural e dependente da agricultura e pecuária.

Chegando em Bragança, é necessário passar pelo centro. Como era noite, a única coisa que pude observar é que é uma cidade muito movimentada e razoavelmente grande, com uma boa vida noturna - passei por diversos barzinhos e restaurantes ainda abertos. As ruas são largas e bem sinalizadas, e a verticalização da cidade está em pleno desenvolvimento, com vários anúncios de apartamentos e condomínios empresariais.

Depois de quase 50km entre Amparo e Bragança, entramos na Fernão Dias e viemos direto para São Paulo. Apesar da SP-095 um pouco mal conservada, é vantajoso utilizá-la para chegar ao Circuito das Águas de São Paulo, pois há menos curvas e desníveis a serem vencidos, e não precisamos pagar os R$ 6,35 de pedágio da Rodovia dos Bandeirantes.

Enfim, haveria ainda muito a explorar neste passeio. As três principais cidades do Circuito das Águas (Morunbaga, Amparo e Serra Negra) são muito hospitaleiras e com diversas opções de entretenimento ambiental a ser realizados. Em Morungaba, por exemplo, há diversas opções de esportes radicais a serem feitos no Rio Jaguari, que corta a cidade.

Até a próxima!

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Rumo ao Centro-Oeste de São Paulo

Para meu primeiro post, aproveitei um passeio de um dia que fiz pro início do interior de São Paulo. Sempre quis conhecer muito todo o interior do estado, e a região central é a que menos conheço. Assim, saí de casa com destino à região de Bauru e à estrada SP-300/Marechal Rondon.

Juntando o meu ÓDIO a pagar pedágio com o fato que em estradas vicinais você acaba vendo coisas que você não consegue ver em auto-estradas a 100, 120km/h, fui primeiro em direção à Itu pela Estrada dos Romeiros, a SP-312. De Itu, seguiria até onde eu conseguisse pela SP-300.

Bem, segui pela SP-312 a partir de Barueri. Passei, necessariamente, pelo centro de Santana de Parnaíba. Consegui visualizar a barragem Edgard de Souza, primeira hidrelétrica a fornecer energia para a cidade de São Paulo e que ainda permanece em funcionamento. Por causa de todo o esgoto do Tietê, o cheiro da água sobe facilmente até a estrada. Passando pelo centro, pude notar que a cidade tem mantido as construções históricas razoavelmente conservadas - afinal de contas, o local é considerado berço dos bandeirantes, já que as expedições para o interior de São Paulo nos tempos coloniais partiam dali.

Após Santana de Parnaíba, segue-se para Pirapora do Bom Jesus. Estrada sinuosa, cortando o início da Serra do Japi e seguindo em alguns lugares muito próxima ao Rio Tietê. Consegue-se ver várias áreas pantanosas, que o rio encharca em suas cheias. O mau cheiro do rio persegue o tempo todo. Pouco antes de chegar ao centro da cidade, avista-se a Barragem de Pirapora, que funciona em conjunto com a Usina de Rasgão. A Barragem acumula água para colocar em funcionamento os motores da Usina; as duas construções foram feitas em trechos sinuosos e estreitos entre Pirapora e Cabreúva, onde o Tietê corre mais rápido devido ao desnível de altitude encontrado entre Santana de Parnaíba e Itu. Falarei novamente sobre a Usina, daqui a pouco.

Chegando ao centro de Pirapora do Bom Jesus, vê-se uma cidade muito pobre, mal-cuidada e mal-cheirosa. Devido à vertente da Barragem, acumula-se muita espuma no rio (devido ao uso indiscriminado de detergentes) e o Tietê cheira muito mal. Em alguns casos, se a abertura das vertentes não for controlada a espuma atinge as ruas da cidade, e isso tem atrapalhado MUITO o turismo, principal atividade econômica.

Após o centro e a obrigatória passagem para o outro lado do rio, a SP-312 começa a subir os morros, e quando ela se estabiliza consegue-se enxergar o paredão enorme da Serra do Japi à frente, e atrás outro paredão de serra entre Pirapora e Araçariguama. No meio dos dois paredões, o Tietê corre pelos desfiladeiros.

E eis que pouco depois surge a estrada até a Usina do Rasgão - ela se chama assim, pois os bandeirantes, em busca de ouro, fizeram um desvio no leito original do rio e acabaram chamando-o de Rasgão. Tentei acessar ao menos uma parte da Usina, mas o acesso é proibido. Ela fica em uma área praticamente inacessível de qualquer modo, e conseguir ao menos uma foto dela, nem que seja na internet é muito difícil; não há fotos nem no Google Earth.

Voltando à SP-312, após várias curvas fechadas e descida novamente, eis que o Tietê surge mais uma vez, à esquerda; percebe-se que ele corre rapidamente nesta área. Há um parque linear neste ponto, com locais para piqueniques e banheiros.

Rio Tietê ao lado da Estrada Pirapora-Cabreúva, próximo ao Bairro do Bananal

Chegamos assim ao Bairro do Bananal, já na cidade de Cabreúva. É um pequeno povoado, onde se podem encontrar charretes que levam os turistas até Pirapora. Neste ponto do percurso, notam-se vários córregos de águas limpas desaguando no Tietê. Saindo do bairro, deixamos de avistar o Tietê, que entra em um desfiladeiro à esquerda e corre por trás da cidade de Cabreúva.

E alguns kilômetros à frente, encontramos o centro de Cabreúva. Cidade pequena, dependente do comércio local e das indústrias de Itú. Há vários campings espalhados pela SP-312, pois há um fluxo razoável de turistas para conhecer as cachoeiras da região.

Saindo do centro e seguindo para Itu, alguns kilômetros a frente encontramos novamente o Tietê e adentramos a Estrada do Parque, área protegida pela APA Tietê Itú-Cabreúva. Há alguns atrativos nesta parte do trajeto, como a Gruta da Glória, e algumas cachoeiras fincadas na Serra do Japi.

Depois do percurso de aproximadamente 20km, chega-se em Itú. Assim que a cidade é contornada, a depressão periférica do estado de São Paulo aparece e você consegue enxergar longos kilômetros de planícies. Como eu já conhecia a cidade, peguei as interligações das estradas até a SP-300, e segui direto para Porto Feliz.

Não há muita área rural entre Itu e Porto Feliz, e se o crescimento das duas cidades continuar no mesmo ritmo, em alguns anos poderemos notar uma conurbação entre essas cidades.

A cidade de Porto Feliz tem em torno de 50 mil habitantes, um centro com ruas estreitas e pequenas. Isso pode ser explicado na fundação da cidade, pois o povoado começou a ser formado por volta de 1700, e utilizado como ponto de apoio nas expedições dos bandeirantes em direção ao interior. O Rio Tietê aparece no fundo do Parque das Monções, ainda sujo porém menos mal-cheiroso. Aparentemente, parte da população depende economicamente das indústrias localizadas em Itu.

Praça da Matriz, Porto Feliz

De Porto Feliz, segui para a cidade de Tietê. São aproximadamente 25 km de estrada, separados pelo primeiro pedágio do caminho, ao custo de R$ 4,75 - valor absurdamente caro, para uma estrada com pista de mão dupla, e conservação mediana. Neste ponto do percurso começam a aparecer plantações de milho de empresas internacionais, com cultivo controlado e transgênico.

Tietê é conhecida como "cidade jardim", pois encontramos diversas alamedas e jardins em toda a cidade. Sua praça principal, a "Praça Dr. Elias Garcia", foi construída em 1852 e reconhecida recentemente como a mais bonita de toda a América Latina. De fato, é muito bonita, com várias espécies diferentes de flores e árvores, e muito bem cuidada. É ponto de encontro da cidade, com alguns barzinhos e lanchonetes ao redor. E com o calor infernal, nada melhor do que tomar um Frozen Yogurt enorme e tão bom quanto o da Yogoberry por simplórios R$ 4,50!

Praça Dr. Elias Garcia, Tietê

Possuindo em torno de 40 mil habitantes, a cidade é bem distribuída e plana, e em uma primeira impressão parece maior que Porto Feliz. Andando pela ponte que passa por cima do Rio Tietê, já não sentimos o cheiro característico que encontramos na região metropolitana de São Paulo, e por causa das chuvas o rio estava muito barrento.

Rio Tietê, cidade de Tietê

No fim da tarde, com o sol quase no poente, decidi esticar um pouco mais e ir até Laranjal Paulista. São mais 25 km, sem pedágio no trecho, divididos pela cidade de Jumirim - não cheguei a entrar na cidade, mas me pareceu bastante pequena.

Laranjal Paulista é a menor cidade dentre as que passei. Fica em um vale do lado esquerdo da SP-300, e a essa altura o Rio Tietê se deslocou para o Norte, em direção à Anhembi. Apesar do nome, a economia da cidade está voltada principalmente para a produção de brinquedos, sendo hoje a terceira maior produtora de brinquedos do estado; além disso, há cultura de cana-de-açúcar e pecuária.

Praça central de Laranjal Paulista, com o coreto e a Igreja Matriz ao fundo

Já era noite e meu estômago pedia por comida; procurei algum restaurante simples, mas só encontrei lanchonetes e barzinhos - estão todos juntos na praça central da cidade, onde há vários quiosques de comidas e doces. Assim, minha janta acabou sendo uma coca e dois salgados. Mas o calor pedia algumas cervejas e um banquinho virado pra rua, para ver o movimento; pena estar desacompanhado nessas horas.

Pensei em ir até Conchas, Anhembi e Botucatu. Mas além de andar mais 200 km de ida e volta, haviam mais dois pedágios de R$ 4,75 ida e volta até Botucatu, encarecendo muito o passeio. Decidi, por fim, pegar o mesmo caminho de volta para casa.

No total, foram 380km ida e volta. De São Paulo até Laranjal Paulista, são 150km pelo caminho que fiz, levando em torno de 3 horas para chegar até lá. Para quem não se importa com o tempo de viagem ou de andar devagar nas estradas, é uma boa alternativa para economizar em pedágio - o percurso direto pela Castello Branco e SP-127 são R$ 15 de ida mais R$ 18 pela volta.

Peço desculpas pela qualidade das fotos, que estão muito ruins. Mas estava sem minha máquina fotográfica, e só com o celular.

Próxima parada: quem sabe?

Olá!

Seja bem-vindo ao meu blog.

Criei este espaço para reunir informações a respeito das minhas viagens por aí, e para falar um pouco dos aspectos dos locais que encontro no meio do caminho.

Como eu gosto muito de colocar o pé na estrada e conhecer lugares novos, achei interessante documentar tudo isso, caso eu venha a utilizar alguma dessas informações no futuro. De quebra, vocês podem acompanhar meu surto "caminhoneiro", e quem sabe, tirar roteiros pra alguma viagem que queiram fazer.

Além de tudo isso, ainda terei um trabalho de conclusão de curso e de repente posso extrair alguma coisa daqui. Afinal de contas, serão pelo menos mais 4 anos de curso, e pretendo encher bastante este blog até lá.

Só espero não ficar preso em São Paulo durante muito tempo, daí este blog vai ficar muito desatualizado... hahaha!

Pretendo também interagir com quem me acompanha, pois preciso decidir pra onde ir e de vez em quando são muitas opções... tem um lance chamado "Enquete" aqui no blogspot que provavelmente vai me ajudar um pouco!

Portanto, "caminhoneiros" de plantão: fiquem ligados! rsrs.